quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cláudio Mendonça analisa mudanças na Educação em Búzios


Secretário de Educação de Búzios, Cláudio Mendonça
“Se a escola não faz o seu papel, a cidade não tem sustentação”.
Aos 48 anos Cláudio Mendonça tem um currículo sólido com experiências marcantes no meio político, empresarial e financeiro. Gaúcho de Porto Alegre ele deixou o Sul aos 14 anos e, determinado, já desempenhou funções importantes em municípios como São Paulo, Resende, Niterói e Rio de Janeiro.

Entre inúmeros cargos e funções já exercidas por ele estão o de Chefe de Gabinete Parlamentar na Assembléia Nacional Constituinte; Secretário Municipal de Fazenda e Administração de Resende; Secretário de Estado e Presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro; Presidente do Instituto Brasileiro de Educação e Políticas Públicas – IBEPP; Presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro – FAETEC; Consultor do Banco Mundial; Secretário de Estado de Educação do Rio de Janeiro; e secretário de Educação de Niterói. Escreveu os livros “Solidariedade do Conhecimento” e “Você Pode Fazer a Reforma Educacional No País, Na Escola, Na Família”.

Mas a despeito deste currículo, por conta de alguns processos na Justiça obtidos ao longo do percurso, seu nome foi o mais criticado entre as escolhas do prefeito André Granado na composição do novo governo do município. O búziosrjnews procurou o secretário Cláudio Mendonça para um balanço desses quatro primeiros meses dele à frente da Educação na península. As novidades introduzidas por ele no setor já estão dando resultado? Foi o que buscamos saber dele, passada a trepidação de sua turbulenta chegada.

Tendo como subsecretária Deisemar Gonçalves, ele conta com uma equipe de mais de 20 pessoas em sua secretaria, onde o clima de trabalho é frenético, não pára. A assessora de comunicação Patrícia Vital confessou-nos nunca ter trabalhado com alguém tão determinado e empolgado com o que faz: “Ele respira Educação 24 horas por dia” – disse ela, acrescentando que isso exige “o pique de todo o pessoal da equipe para conseguir acompanhá-lo”.

“Não se faz uma reforma da noite para o dia”

Paula Maciel – O seu nome foi um dos mais criticados na composição do novo governo de Búzios. Como o Senhor conseguiu lidar com a rejeição?
Cláudio Mendonça – Não tive problema de rejeição, pois do contrário teria procurado auxílio psicológico. O que aconteceu foi uma rejeição natural à nossa proposta ambiciosa de reforma de um sistema. Toda mudança séria implica em tirar da zona de conforto quem tinha privilégios. Isso contrariou uma série de interesses, o que aliado à frustração natural devido à viuvez política dos que deixaram o governo, é compreensível que tenha havido críticas. Nós não mudamos de opinião e fizemos alianças naturais com pessoas que assumiram atitudes independentes com relação ao processo político, o que incomoda. Além disso, nossa equipe provou ser de uma força diamantina... O diamante é duro, coeso, resistente a abalos e momentos críticos...

PM – O Sr. já se sente mais confortável no cargo?
Cláudio Mendonça – Se você considerar que uma parcela das críticas é necessária e outras deixam transparecer objetivos sórdidos inconfessáveis, traz certo conforto ser atacado por pessoas que têm práticas políticas antigas...

PM – O Sr. mudou algumas coisas logo de imediato que não agradaram, como a contratação de professores, a mudança dos diretores de escolas. Foi a coisa certa a fazer?

Cláudio Mendonça – Nós fizemos mudanças importantes. A primeira foi cultural, introduzindo o sistema de mérito ao cargo público de natureza técnica. Os diretores, por exemplo, que eram indicados por aspectos subjetivos, foram submetidos a uma banca, tendo que responder, inclusive, a questões sobre uma situação crítica na escola. Exemplo: um grupo de pais, cujos filhos, hipoteticamente, estariam sofrendo bulling. Como eles reagiriam para resolver a situação? Os diretores tiveram 30 minutos para preparar algo e trazer uma solução. Foi uma escolha impessoal, onde a análise do currículo e ainda a elaboração de um Plano de Gestão, como esse aqui em nossa mão, nos dá a garantia que eles podem assumir a escola.

PM  E quantas escolas já têm esse Plano de Gestão? 

Cláudio Mendonça – A Emígdio, a Lydia Shermam e a José Bento Ribeiro Dantas já estão adiantadas... Eles trazem o Plano de Gestão deles, na qualidade de secretário analiso e faço as críticas técnicas necessárias (não pessoais), então eles voltam a rebater com o grupo para ajustes na escola o que eu analisei, a gente corrige, e só então se fecha o processo para pôr o plano em ação.

PM  As escolas com isso terão autonomia para trabalhar como quiserem? 

Cláudio Mendonça – A ideia é essa. Mas as regras têm que ser cumpridas. Vamos assinar um “Termo de Compromisso” com as escolas porque elas precisam cumprir metas de qualidade. Isso vai ser bom para todo mundo. Inclusive, está para ser aprovado pela Câmara, um projeto de lei que prevê o repasse de verba escolar direto para as escolas. Se os vereadores entenderem a importância disso...

PM  Quer dizer que as diretoras manusearão os recursos, de acordo como acharem conveniente? 

Cláudio Mendonça – É necessário que seja assim. A escola é um organismo extremamente frágil. E às vezes um simples problema como uma privada quebrada, um cano partido que precisa ser trocado, um esgoto que precisa ser desentupido, pode fechar uma escola. A burocracia atrapalha. Se a escola tem quatro merendeiras e duas não vão, não tem como duas apenas prepararem 600 refeições a seu turno. Sem merenda não tem aula. É muito sério uma escola parar por qualquer motivo, por depender do órgão central para mandar fazer o serviço. Assim, quando tiver um problema, elas próprias vão poder dar soluções rápidas.

PM  O Sr. decidiu contratar professores formados pelo Colégio Municipal Paulo Freire para atuarem como auxiliares, um em cada sala de aula. Isso não vai onerar a folha de pagamento da prefeitura? 

Cláudio Mendonça – É bom que alguém me pergunte sobre essa questão de custo. Quando a gente tem uma taxa de repetência e evasão alta, em torno de 20%, significa que o sistema tem 20% de fracasso escolar, e que a cada cinco alunos perdemos um. Quanto mais os alunos se tornam repetentes ao invés de ficarem melhores, eles pioram, e acabam abandonando a escola. A senhora trabalha e boa parte do seu salário vai para o governo em impostos, que deve retornar isso para a educação, mas o que está sendo gerada no país é uma formação de má qualidade, com muitos jovens que não sabem assinar um bilhete e nem fazer as quatro operações; e advogados com uma escrita péssima. É essa gente que vai gerar a economia do país que a gente vai viver. Isso é desperdício de recursos. O “custo” é ter uma criança sem saber ler, nem falar direito a própria lingua; custa muito é não se colocar um professor a mais em sala de aula para se conseguir com isso elevar o padrão do ensino; custa é não fazer o melhor, e sai mais caro é a gente ficar estagnado...

PM – Já que eu estou “pagando”... Como vai funcionar o esquema de Residência Pedagógica?
Cláudio Mendonça – Búzios é um dos poucos municípios que tem uma Escola de Formação de Professores própria, no caso, a Paulo Freire. Achei isso muito legal. Nos outros é o governo do Estado que qualifica os professores. Com esse projeto de Residência Pedagógica, ao mesmo tempo em que estaremos treinando o professor, que vai participar do dia a dia da sala de aula, aprendendo com o titular, vamos poder monitorar os alunos do Paulo Freire. Vai ser possível descobrirmos as carências do processo formativo. Com isso queremos ir aperfeiçoando, até termos uma escola de excelência na formação de nossos professores... Os residentes irão atuar em 42 turmas de alfabetização, de 1ª. a 3ª. Séries. Dezessete já se apresentaram e já estão, inclusive, na ativa.

PM  Quais transformações, poderíamos dizer, que o novo governo já conseguiu de fato? 

Cláudio Mendonça – Educação é um processo lento e não se muda as coisas da noite para o dia. Estamos na fase final de transformar a escola Maria Rita, na Rasa, numa creche para 120 crianças. Já temos três creches com 300 crianças. Ou seja, aumentou em 40% o número de vagas em 90 dias de governo. Estamos com obras na nova escola de Educação Infantil no (INEFI), que atenderá crianças na faixa de 4-5 anos (Pré I e Pré II), gerando mais 120 vagas, isto é, 20% a mais. E abrimos lá também a escola de Ensino Médio noturno, com habilidades profissionalizantes com 72 alunos, caminhando já para a 4ª turma, totalizando 180 alunos atendidos.



PM – O subsecretário estadual de Educação, Antonio Neto, durante o 3º Encontro de Prefeitos, declarou que Búzios iria passar por uma avaliação de ensino do governo do Estado. O que isso vai acrescentar de fato?
Cláudio Mendonça – A prova diagnóstica de todos os alunos do 5º e 9º anos, séries finais do ensino fundamental, aconteceu no dia 16 de abril nas duas disciplinas básicas, Português e Matemática. Não é uma prova tradicional, mas um exame que mede menos a memória e mais a habilidade, a capacidade de raciocínio e interpretação do aluno. Vários países usam isso, o sistema da Teoria da Resposta ao Item, em que se comparam com uma mesma prova pessoas de níveis de conhecimento diferentes, calibrando pontos de acordo com itens respondidos. O resultado do Sarejinho vai sair dia 02 de maio, e com isso a gente vai ter uma radiografia da Educação em Búzios...

PM – Que outros projetos já foram desenvolvidos? 

Cláudio Mendonça – Estamos implantando um laboratório de ciências na Escola Nicomedes Vieira, porque temos para lá um projeto de Aceleração do Aprendizado. Ali tem um histórico de distorção grande, porque a maioria dos alunos é madura,enfim, precisamos mudar a abordagem deles e para isso estamos qualificando os professores de lá. Pretendemos implantar laboratórios de ciências em todas as escolas de 6º. a 9º anos (5ª a 8ª. Série), e vamos iniciar um Programa de Iniciação Científica na rede. Outra novidade é o Projeto de Monitoria, que estamos lançando, com 260 alunos indicados pelos professores. São lideranças positivas que irão apoiar nas atividades em sala e no reforço escolar da turma. Os nomes indicados vão sair em edital, e de acordo com as atividades desenvolvidas, eles vão ganhar prêmios como incentivo tipo passeios, ida ao cinema, etc. Fizemos um trabalho de acuidade visual dos alunos de 1º ao 3º ano, que é o Projeto de Olho no Futuro, cuja segunda fase acontece nos dias 25 a 27 de abril; e estamos investindo no ensino universitário. Reformamos dois ônibus para o transporte dos alunos que estudam em outro município, e o Prefeito já liberou a vinda de um terceiro. Por decisão da própria Comissão Universitária, os alunos que optarem pela ajuda da bolsa, não terão direito ao ônibus e vice e versa, mas este caso está sendo revisto para um atendimento mais amplo aos alunos.

PM – Algum recado para a população? 

Cláudio Mendonça - Estamos apostando no trinômio: autonomia escola; autoria docente (o professor ser o protagonista da Educação); e tecnologia educacional para fazer a reforma. As críticas são bem vindas. E as pessoas que não tiverem filhos na escola também têm o direito de cobrar os resultados. Se a escola não faz o seu papel, a cidade não tem sustentação. Se quisermos mudar a história, temos que mudar a base da nossa economia. Só soja, café e laranja não dão mais. Precisamos de um sistema eficiente de educação e todos são importantes para o desenvolvimento do país.

Fotos : Paula Maciel /Patrícia Vital

Fonte: Macaé News (www.macaenews.com.br)
Foto: Patrícia Vital

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